2 de maio de 2009

Dor


Eu estou com a raiva à flor da pele. A impaciência me consome. O mundo é a minha dor.
Por mais que queira, ao menos uma gota de otimismo, a dor sentida, todos os dias, tem acabado com o meu bom humor.
Por quanto tempo eu ainda vou sentir essa dor? De quanto tempo preciso pra aprender a suportá-la?
O tempo nunca me pareceu tão devagar. Os dias não passam, as semanas custam a passar. O andar é lento. Lento e muito pesado. Têm dias que parecem insuportáveis, mas às vezes, goles de coragem entorpecem minha dor e diminuem, um pouco, a ansiedade que me toma conta. Bom seria se todos os dias fossem assim, mas por mais que todos os espaços de ar que inspiro sejam com o desejo de me encontrar com essa coragem, não são todos os dias que ela é fácil de ser encontrada.
Hoje, todos os movimentos me custavam. A lembrança do fim de semana em meio àqueles que eu tanto gosto de compartilhar, trouxeram à tona a saudade da risada despreocupada, da espontaneidade das palavras sem sentido, dos sutis gestos somente percebidos pelos sorrisos dos amigos, do meu movimento, agora, um tanto quanto perdido.
A loucura descontraída do rapaz trouxe o meu sorriso pra fora e até fez, por um instante de tempo, eu perder o fôlego de tanto rir, mas uma ponta de tristeza cutuca o meu coração ao não encontrar a loucura descontraída em mim. Mudo o olhar de direção, mas a evidência dos movimentos, nas pernas das moças, também evidenciam a falta dos meus próprios movimentos.
Fui dormir com o nó na garganta, rezando para que a noite demorasse um pouco mais pra passar, pro sono ter um pouco mais de tempo pra durar e pro sonho gostoso ter um gostinho maior de realidade. O nó acordou na garganta. Sete horas. Sem nem mais um minutinho pra enganar o relógio, virar pro lado e voltar a dormir. Como não tenho mais meus seis anos de idade, nos quais a única desculpa pra esquecer tudo e passar o dia no sofá, de pernas pro ar, tinha que ser dada para minha mãe, levantei contrariada e segui o rumo dos meus compromissos.
Andei pela rua com o choro entalado atrás do colo que eu tanto queria pra me acarinhar, só um pouquinho. Pro meu alívio, o colo gostoso, do abraço carinhoso e olhar compreensivo apareceu pra acolher o meu choro. O choro que tinha todas as dores diluídas, que se misturou à raiva, às frustrações, às vontades que permanecem, no momento, somente como vontades.
O choro desafrouxou o nó da garganta e a angústia do peito. Hoje acordei disposta a receber a dor do jeito que ela quisesse. Quando ela veio, fiz força, mordi o travesseiro, contraí o corpo inteiro e ajudei a dor a cumprir um bocado do seu destino.
Por mais que esta angústia permaneça fazendo o compasso do peito um passo apertado, o esforço da força feita com a dor diminui um tanto a distância entre o choro apertado e o choro final, aliviado.
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"As oportunidades para procurar forças mais profundas em nós mesmos vêm quando a vida parece mais desafiadora". (Joseph Campbell)